terça-feira, setembro 04, 2007

Acomodando as bagagens no carro!

Gentes, vocês não sabem o que significa ir passar a noite de sábado para domingo no sítio, em Itatiba, a 80 Km de São Paulo. Digo isso em relação à colocação da bagagem no carro.

O drama começa na sexta feira.

“Então sairemos às 9 hs para chegarmos lá às 10 e meia”, eu já vou ponderando. “Assim, tenho bastante tempo para cuidar de minhas coisas, lá”. Para quem não sabe, cuidar de minhas coisas significa dar um trato nas orquídeas, pescar no lago, dar uma boa volta no pomar, pescar no lago, dar uma geral nos meus cactos, pescar no lago, coisinhas assim.

Ultimamente, ando meio preocupado com minhas plantas. Imaginem que saiu um caseiro e, sem que eu percebesse, ele resolveu tirar umas mudas de minhas plantas. A concepção de tirar mudas é engraçada. O sujeito chega no vaso e separa um quarto da planta. Um quarto!!! Que ele deixa para mim e leva os outros três quartos. Pode, uma coisa assim?

Mas, nós estamos falando da saída para o sítio. São os assuntos “pré”. Deixemos os assuntos “durante” e “pós” para outra hora.

Enfim, tentei marcar um horário de saída. A resposta é imediata e “na lata”:

“Nove horas? Rááááá! Nesse horário você ainda vai estar dormindo!”

Dá para agüentar? Ainda me acusa. E continua:

“Quero assistir à missa do meio-dia, assim não preciso ir à missa no domingo. Saindo da missa, vou ao supermercado fazer as compras para o almoço no sítio”.

“Não precisa comprar. Lá tem tudo!”

“É o que você pensa. Você não é dona-de-casa!”

Tem lógica. Não sou mesmo. Mas, como em casa a última palavra é sempre a minha, sentencio:

“Sim, senhora!”

Dia seguinte, ida à missa, volta do supermercado, estamos almoçando.

“A mala já está pronta?”, pergunto, embora já saiba a resposta.

“Ainda não. Mas, é muito rápido. É só pegar o básico e está pronto. E não esqueça de me lembrar de por as coisas da geladeira no isopor...”

“Não esqueça de por as coisas da geladeira no...”

“Agora, não! É um pouco antes de sairmos!”

É lógico que eu não ia deixar escapar a oportunidade de fazer uma brincadeirinha, né? Hehehehe!

“Eu só falei porque posso esquecer, na hora de lembrar você para que não se esqueça! E, como não quero esquecer, estou lembrando-a agora...”

Ela pareceu não ouvir. Pelo menos, não se dignou responder.

Terminado o almoço, com minha meia dúzia de coisinhas já na porta da cozinha, prontas para serem embarcadas, fico presenciando a arrumação da mala.

“Para que essas malhas? Está um calor de rachar”.

“Ouvi, na previsão do tempo, que tem uma frente fria estacionada no sul da Argentina.”

“Mas isso, se chegar até o Brasil, leva um mês”.

“Nunca se sabe! Pode estar estacionada, lá no sul da Argentina, há um mês, e só agora se deram conta”.

Não percebi a lógica! Mas, lógica feminina não se discute! E lá fico eu olhando a separação, sobre nossa cama, de malhas abertas e fechadas, malhas mais finas e malhas mais grossas, cachecóis (será esse, o plural de cachecol? Ajudem-me!), tudo, enfim, para prevenir qualquer variação de temperatura possível ou imaginária, em qualquer época do ano. Obviamente, tem também a sessão de roupas para todos os possíveis casos de chuvas, de garoa a maremoto. Com diversos guarda-chuvas. Só não coloca mais minhas galochas por não saber onde comprar nu novo par, depois que minha últimas galochas foram perdidas num aguaceiro daqueles que arrasta tudo, até ônibus, para dentro dos túneis do Anhangabaú. Falando nisso, será que ainda fabricam e vendem galochas?

A separação das roupas a serem levadas continua. Agora são separados cobertores e “edredons”. Meu espanto é imenso.

“Pra quê tudo isso? Tem tudo isso daí no sítio!”

“Tem, mas está tudo dentro do armário. Provavelmente vai estar tudo com cheiro de bolor e você vai ter ataque de bronquite! É melhor levarmos daqui.”

Dá para entender lógica feminina?

Vem a separação dos remédios. Felizmente, ninguém é hipocondríaco e somos absolutamente contrários à auto-medicação. A não ser, obviamente, nos tratamentos de casos corriqueiros. Assim, para os casos corriqueiros, a maleta de remédios leva todo o tipo de remédio possível e imaginário para as emergências. Assim: aspirina, anti-alérgico, Cremefenergan, anti-gripais mil, Bromil, Merthiolate, algodão, Band-Aid, todos os meus remédios de bronquite, alopurinol, xaropes disto e daquilo, Nebacetim, ataduras, talas (desconfio que ela leve alguns quilos de gesso em pó, mas ainda não tive coragem de olhar na maleta de remédios), Polaramine, Vick Vaporube, enfim, centenas de remédios para todo e qualquer tipo de doença, ferimento, emergência farmacêutica... ops, estava me esquecendo do Lavolho!. Acredito que ela carregue, ainda, remédios para a queda de cabelos, topadas com o dedão, amidalite, hepatite, traqueite, afrodite, meningite no pulmão, etc. Tem tudo! Sem falar que ela tem todos os possíveis remédios para todos os possíveis males do “filhinho”, que estará em seu próprio apartamento, há quase cem quilômetros de distância.

“Nunca se sabe a hora de sairmos correndo para atender um filho!” Aqui já é a lógica materna falando. A gente não entende, mas deve ter uma lógica nessa lógica. Enfim!

Não vou descrever a coleta das roupas dela. Mas, para mim, ela pega os básicos seguintes: pijamas de calças curtas, para o caso de estar muito quente, pijamas leves de calças comprida, para o caso de o tempo estar ameno (bonito!), pijamas bem grossos, para o caso de frio, camisas, camisetas, cuecas, meias, lenços, vários “jeans”, bermudas... Só não leva ceroulas porque me recuso a usar.

“Pra quê essas bermudas? Tem várias, lá no sítio!”

“Vieram para lavar.” Ahhhh! Tem lógica! Feminina, mas lógica.

Sapatos, chinelos, tênis, sandálias...

E o capítulo de sabonetes, creme dental, escovas de dentes novas, pois as dosítio já estão muito velhas e deformadas (???), desodorantes, shampoos...Deixa pra lá!

Nem vou descrever as coisas que saem da geladeira para dentro da enorme caixa de isopor! Nem as latarias e demais pacotes de alimentos. Isto viraria uma ode mais comprida que “Os Lusíadas”.

E a escolha das caixinhas de chá? O chá é necessário, porque, sendo uma coisa bem quente, faz bem para a minha bronquite. Na dúvida, vão os chás de hortelã, boldo, mate, cidreira, erva-doce, frutas vermelhas.. e amarelas, azuis, roxas, multicoloridas, etc. Tem lógica! Algum deverá me fazer bem, mesmo que eu passe a noite toda no banheiro, fazendo xixi, de tanto chá que eu precisei tomar.

Aí, vem o capítulo de ajeitar tudo dentro do carro.

Chamo o elevador para uma primeira viagem com as coisas. Obviamente, as coisas dela têm prioridade. Mesmo porque, minhas coisinhas cabem em qualquer espacinho eventualmente sobrante.

Lógico que, no sub-solo, não tem ninguém para me ajudar. Calço a porta do elevador com uma das malas e descarrego o resto, enquanto, em outro andar, alguém esmurra a porta do elevador que não sobe. Em diversas idas e vindas, levo tudo até o carro.

Abro todas as portas e o porta-malas. E vou ajeitando, com toda a imensa paciência com que se monta um quebra-cabeças chinês. A malona no porta malas... A mala média vai no banco traseiro... O resto do porta-malas é tomado pelos cobertores e “edredons”... A mala pequena vai no chão, atrás do banco do motorista... A mala de sapatos vai no chão, atrás do banco do passageiro... A maleta de remédios... Minha intenção é esquece-la, no chão da garagem... Mas, eu a coloco no espaço que sobrou, no banco traseiro. E subo para o apartamento para a segunda viagem de transporte das bagagens.

Quando abro a porta da cozinha e vejo o que ainda falta colocar no carro, me dá um ataque de desespero. Quase que chilique, mesmo! Mas, sou forte! E lá vou eu, para o elevador e a garagem, com a enorme caixa de isopor, mais uma caixa média de isopor, pois as coisas da geladeira não couberam em uma única caixa, mais milhares de sacolas de super-mercado carregadas com os mantimentos que não precisam ser conservados frios, mais pacotes com uma série de coisas que nem identifico. O mesmo drama para descarregar o elevador, enquanto um cretino, em outro andar, esmurra a porta do elevador que está demorando.

Chegando à garagem, as tralhas da “segunda carga” no chão esperando acomodação, fico lá, eu, imaginando como colocar tudo aquilo dentro do “Golzinho”. Tiro tudo que já estava dentro do carro e começo uma nova acomodação das coisas. Depois de trinta minutos de muita paciência e muito trabalho, tudo devidamente acomodado e ajustado, volto para o apartamento. Evidentemente, nessa altura já desisti de levar minhas “coisinhas”. Óbvio, não há lugar para mais nada!

No apartamento, ela está pensativa:

“Que será que estou esquecendo?”

Minha resposta é rápida:

“Nada! Basta olhar em volta. Só sobraram os móveis vazios!” Ela ignora a ironia, mas ainda tem algumas sacolinhas de supermercado nas mãos.

“Onde você vai por isso? Não cabe mais nada.”

“Não se preocupe! Vão no chão, junto aos meus pés!” Me acalmo, afinal, lógica feminina tem, lá, a sua lógica.

Sete horas da noite, pouco mais de uma hora depois de sairmos do apartamento, chegamos ao sítio. Já está escuro e não dá para fazer mais nada, lá fora.

No sítio, as roupas estavam todas em ordem, sem qualquer cheiro de bolor. A caseira, diariamente, abre as janelas e deixa o quarto “ventilando”. Dessa forma, não tive nenhum ataque de bronquite.

Depois de desfeitas as malas, com todas as roupas e mantimentos em seus devidos lugares, aparece minha irmã:

“Amanhã, o almoço será lá em casa! Não precisam se preocupar com comida.” Olho para a Nina e rosno, ao lembrar de minhas coisas que ficaram em São Paulo por falta de espaço no carro.

Lanchamos. Aos curiosos de saberem que tipo de chá eu tomei... Tomei chá de erva-cidreira. Não a erva-cidreira da caixinha, mas erva-cidreira verdadeira, tradicional, verdinha, cheirosinha, que a caseira havia colhido, na horta, no final da tarde...

De tanto cansaço, fui dormir logo. Levantei quase meio-dia. Tomei um café rápido, dei uma olhada nas plantas, e subi para a casa do meu cunhado: batidinhas, petiscos, bate-papo até a hora do almoço. No almoço, vinho...

Terminado o almoço, fui tirar uma soneca, que não sou de ferro. Acordei apenas com tempo de molhar, rapidamente, minhas plantas, enquanto a Nina fazia as malas para voltarmos a São Paulo. Toda a roupa inútil precisa retornar, o frio argentino não veio. Assim como todas as coisas de geladeira e os mantimentos “não de geladeira” também voltam. Ou seja: voltou tudo para São Paulo! Sem uso!

“Você me vê um comprimido de Pepsamar? Estou com um gosto meio ácido na boca.”

“Esse não tem. Estava com a validade vencida e eu não trouxe. Segunda feira compro mais!”

Gentes, para terminar este relato, que não tem nada de exagero, ela pode confirmar tudinho, só duas perguntas:

1-Divertimento de mulher é fazer e desfazer malas e pacotes?

2-Em caso de uxoricídio, será que o juiz aceita essas condições como “atenuantes” e determina uma pena menor?

JF

Um comentário:

Anônimo disse...

Lendo este texto somente hoje fiquei pensando: Põxa, tudo isso vai se acabar quando vocês forem morar em Itatiba e a contagem é regressiva, já acontecerá neste final de semana. A Nina não vai mais se preocupar em isopor, cobertores, sacolinhas....... ou será que vai? JF, cuidado, ela pode inovar as idéias. rsrsrsrsrs
Abraços