terça-feira, maio 31, 2011

UMA COBRA NA CIDADE GRANDE

Lá pelos primeiros anos de sítio, nos anos 70, tínhamos muitas cobras pelas proximidades da casa. Posteriormente, com muita limpeza no entorno, conseguimos, praticamente, acabar com os ratos. E, com o fim dos ratos, as cobras foram sumindo. Hoje em dia, ainda aparecem, mas são raras.


Mas, naqueles tempos, imbuído de muito espírito cívico, em costumava capturar cobras e entregá-las ao Instituto Butantã, em São Paulo, para a utilização na produção de soro anti-ofídico. Também capturava aranhas para entrega ao Instituto Butantã. E, para mim, arrastou-se pelo chão era cobra perigosa. Escondeu-se atrás de algum tijolo ou pedaço de madeira, era aranha venenosa. E, nessas condições, o destino de cobras e aranhas capturadas era sempre o Instituto Butantã. Capturava a bicharada no final de semana e, segunda feira, lá estava eu entregando as caixas no Instituto.

Naquela época, eles tinham por norma (devem ter, ainda) enviar um cartão agradecendo a remessa e identificando o animal enviado. Muita gentileza, embora o agradecimento demorasse vários meses para chegar. E, quando chegava o cartão, às vezes havia alguma surpresa, como por exemplo: a cobra era uma inofensiva “limpa-campo”. Ou, então, a cobra era nada mais nada menos que uma “cobra cega”. Que, na verdade, não é cobra e, sim, um lagarto. Mas, como é que eu iria saber? A cobra aparecia e eu já saia correndo com uma caixa de papelão que jogava sobre ela. Depois, era uma tremenda ginástica para fechar a caixa, sem que a cobra fugisse. Lógico que, depois, eu fazia uns furinhos na caixa para que a coitada respirasse. Afinal, e se ela fosse asmática? Precisaria de muito ar.

Quando eu levava a bicharada em horário de expediente, em geral, eles abriam e davam a classificação na hora. Mas, quando era horário de almoço, entregava para alguém que estava por ali, pessoa não autorizada a abrir, deixava nome e endereço, e aguardava.

Certa vez, capturei uma tremenda cobra. Bem, não muito grande. Estava mais para média. Mas de estatura pequena... Tá bem! Era uma cobrinha. Talvez uns 60 ou 70 centímetros de comprimento. Ao entregar a caixa, o funcionário balançou e comentou:

“Nossa! Esta deve ser enoooormeee!!”

Saí de lá com raiva do sujeito. “Vai gozar da cara da mãe”, pensei comigo mesmo.

Nessa época, como eu tinha uma família de dois filhos e uma esposa que, ao viajarem por dois dias, faziam questão de levar bagagem suficiente para dois meses (é hoje que a Nina me bate!), eu tinha uma Variant que, além daquele baita espaço traseiro para malas e outras bagunças da família, tinha, também, um porta-malas na frente, que era onde eu carregava minhas tralhas (também tinha meus direitos, né?), inclusive caixas com cobras e vidros com aranhas.

Lembro até hoje. Foram dois meses depois de o engraçadinho brincar com o tamanho da cobra que eu levara. Mandei fazer uma lavagem total do carro. Quando o lavador foi tirar o estepe de dentro do porta-malas dianteiro, ao levantar o pneu, deu de cara com a cara de uma cobra descarada. O susto foi tão grande que ele mudou de cor, na hora. Ficou mais verde que camisa de palmeirense, depois ficou mais azul que o céu de anil brasileiro, aí ficou mais vermelho que telhado de casinha desenhada por criança de pré-primário... Enfim, passou por todas as cores do arco-íris em questão de fração de segundos. Vocês já pensaram num cara todo distraído, assobiando o hino de Corínthians, e, de repente, encontrar uma cobra habitando o porta-malas dianteiro de um VW-Variant? Não é brincadeira! É de assustar qualquer marmanjo.

Todo mundo que estava num raio de uns 238 metros de distância do carro veio apreciar a cobra. Já estavam a ponto de chamarem bombeiros, polícia, fuzileiros navais, quando alguém olhou melhor e disse: “Mas ela está morta!” Não só morta, como seca. Devia estar ali havia muito tempo.

Só sei que fiquei bastante tempo tentando imaginar como é que uma cobra iria escalar meu carro para ir instalar-se atrás do pneu de reserva. Ainda bem que, por aqueles tempos, não furou nenhum dos pneus titulares. Até que, uns meses depois, ali por 03 de setembro de 1976, recebi, do Instituto Butantã, o costumeiro cartão, com as anotações datilografadas: “RECEBEMOS E AGRADECEMOS sua remessa de 19/4/76 – serpente nenhuma: caixa VAZIA”.

Gentes, desculpem-me! Pela humanidade sou até capaz de fazer outras benemerências. Mas, carregar cobras, no meu carro, nunca mais! Não me peçam!


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VOTEM NA MAZÉ!


Pessoal, minha amiga Mazé, do blogue http://umpensamentovirtual.blogspot.com/ está participandode um confronto e está precisando dos nossos votos. É só entrar no endereço http://dado.pag.zip.net/ . Aparecerá um quadro central. Nesse quadro, rolem até o Confronto 6 e cliquem no nome da Mazé.

E não deixem de ver a postagem da Mazé. Excelente! E nos ensina a identificar os loucos à nossa volta.

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EDDIE WOOD ESTÁ DE VOLTA!

Gentes, esse Ed é de morte, mesmo! Eita beagle metido! Foi só eu falar, na minha postagem anterior, que ia contar como é que a Nina faz para explodir panelas de pressão que ele correu na frente e postou lá no blogue dele. Pode uma coisa destas? Verifiquem com os seus próprios olhos! É no http://edbeagle.blogspot.com/

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É isso aí, gentas e gentos.

Abração e até à próxima.

15 comentários:

maray disse...

tenho um amigo que mais ou menos na mesma época tinha uma variant, também. E um sítio em Juquitiba. Mas a variant dele, na qual ele carregava tudo, de esterco a tijolos, acabou sendo hotel pra uma família de camundongos. Família essa que ele nunca conseguiu se livrar. Acabou vendendo ( sabe deus como) a variant. Com camundongos e tudo. espero que não tenha sido vc o feliz comprador ;)

abração

Miguel disse...

Caro "J", sua benemerência em se dispor a levar os ofídios peçonhentos ao instituto Butantã é digna de todo louvor. Gostei muito do teu relato, não importava se era cobra, cobrinha ou cobrão, e muito menos se era venenosa, tá certo, o Butantã que se vire, é o negócio deles.

Agora, a espertinha da cobra que se livrou da caixa de papelão acabou dando com os burros n'água coitada, faleceu de forma trágica.

Meu caro, vc também tem o dom, um relato magnífico, não pude conter os risos. Abração meu velho.

Nina Maria disse...

Amor, até hoje fico pensando se, ao invés dela se esconder atrás do estepe, tivesse ido se refugiar em uma das "mil" malas e sacolas que levávamos (melhor dizendo, eu levava)para passar o fim de semana no sítio. Só em imaginar fico "apavorada"!
Beijos

Menina no Sotão disse...

Fiquei com pena da cobra, mas a cara do individuo deve ter sido ótima.

bacio

Claudinha ੴ disse...

Meu caro JF, a Nina deveria ter denunciado você pro IBAMA! Como deixar toda sua famílis correr este risco, e se a cobra pica alguém? Ah, mas você é quem deveria ter aberto o porta-malas, aí o susto seria deivo, hahaha. Eu tenho pavor de cobras e aranhas> mato sem dó se aparecerem em minha frente. Mas isso se eu não tiver para onde fugir , primeiro! Um beijo!

Francys Oliva disse...

Coitada da cobra.rs

Adenium - Rosa do Deserto disse...

JF,
Meu pai tinha um mini zoo no sítio Xapuri, aqui próximo, no Eusébio. Algumas vezes que veio à Fortaleza chegou a trazer no banco de passageiro uma cobra, não era cobrinha não, era uma jararaca. Ele sempre desafiou à vida, quando não eram cobras, eram macacos, que certa vez, quase o matam de tanta mordida.
O seu conto é muito bom, bem engraçado. Ainda bem que já não leva cobras no carro, só plantas para tranquilidade de nós orquidófilos.
Abração

Tina disse...

Oi JF !

Estou dando risada e imaginando a cena... rs Muito bom seu relato, parabéns!

beijo grande e bom fim de semana.

Lindalva disse...

JF só o teu perfil já vale está seguindo teu cantinho nauta... beijos harmoniosos n'alma!

Claudinha ੴ disse...

Meu caro JF, vejo que meu comentário está cheio de erros, estou com problemas no teclado do notebook. Ficou assim depois que mandei formatar... Tenho que mandar consertar! Eu quis dizer o susto devido.
Eu voltei aqui para contar que tenho flores novas no Lentes. São as minhas Flores de Junho...

J.F. disse...

Oi, Claudinha.
Nooossa, como está lindo o blogue LENTES2! Vou colocar um link.
Belas fotos de flores, em especial o Paphiopedilum Leanum, ou "sapatinho", orquídea terrestre de origem asiática e muito bem aclimatada no Brasil.

Viviane Maia disse...

Oii, tudo bom?
Pois é, que situação, mas o bom de passar por isso e poder depois fazer memoria e rir, e graças ao blog, nos fazer rir :)

Grande beijo a vc e sua esposa, só de ler as suas histórias já criei um grande carinho por ela :)

Fique com Deus.



Ah fiz um outro blog, quando der, aparece por lá :)

JuJu disse...

Meu caro, não teve como eu não imaginar a hora em que cara do sujeito que achou a cobra ficar com todas as cores possíveis... Decerto a cor final foi um branco mais branco do que o de rosto de morto. O que uma cobra não é capaz de provocar em alguém, não é? Hehe!
Taí uma história digna de anedotário. Vai ter que guardar essa muito bem!
...
Até!

Luma Rosa disse...

Meo Deux... medo! Ainda bem que não precisou de estepe neste meio tempo, mas gostaria de saber qual esporte adotou depois que abandonou a caça às cobras no final de semana! :) Aliou boa ação com proteção a família - imagina essas cobras rastejando pela casa!
Bom fim de semana! Beijus,

MARCOS DHOTTA disse...

Caríssimo,

Só o fato de ler teu post me deu arrepios... Nunca que eu teria a coragem e a sua ousadia para por numa caixa cobra, cobrinhas e cobrões. Morro de medo de cobras e qualquer bicho peçonhento. Eu não pensaria duas vezes, venderia o sitio. Infelizmente, sou urbano demais para ter atitudes como a sua. Abração!