terça-feira, julho 03, 2012

SOBRE GALOS E GALINHAS


Talarico entrou no elevador. Dentro, já se encontrava a boazuda do 907. Aquela que, depois que pegou o marido no flagra, não propriamente com outra, mas...  

Foi assim: ela havia saído para fazer as compras no supermercado. Quando chegou à garagem do prédio, percebeu que havia esquecido as chaves do carro e voltou para trás. O marido não havia perdido tempo e já estava na cama, como já disse, não com outra. Era com outro! E justamente o faxineiro do prédio. Foi um escândalo. O faxineiro foi mandado embora, assim como o marido. O zelador, fofoqueiro por vocação, contou para todas as domésticas, deixando bem claro que era segredo. Mas, as patroas todas acabaram sabendo o segredo e, daí, a notícia ganhou o mundo, passando, antes pelos ouvidos de todos os maridos existentes no prédio. E acontece que a boazuda do 907 era realmente boazuda e a homarada toda ficou solidária a ela, na esperança de, digamos assim, poder consolá-la. Vocês me entenderam! Pois não é que a boazuda, que antes tinha cara de brava, passou a sorrir para todos os vizinhos homens? Verdade que não passava disso. Mas, como a esperança é a última que morre, e longe de suas respectivas (lógico!), a homarada toda se desmanchava em sorrisos derretidos quando ela aparecia. Só que, em relação ao Talarico, ela, antes tão simpática, passou a fazer uma carranca que desestimulava qualquer pensamento, principalmente os pensamentos anti éticos. Ele, coitado, ficou imaginando o que teria dado errado. Teria uma casquinha de feijão ficado presa bem na frente dos dentes da frente? Será que o desodorante havia vencido?

Pois não era nada disso. O motivo era o galo. O Talarico tinha um galo no apartamento. Verdade! E o maldito galo era mais respeitador de horário que o próprio despertador. Todos os dias, inclusive domingos e feriados, o maldito galo se punha a cantar às quatro da madrugada. Fizesse chuva ou fizesse sol. 

E como é que o Talarico adquirira aquele mico? Fácil! Os filhos, numa festinha de aniversário de crianças, ganharam um pintinho cada um e levaram para casa. A mulher do Talarico ficou em polvorosa. Como é que iriam cuidar de dois pintinhos dentro de um apartamento? Felizmente, o Repolho, o cãozinho da casa, resolveu metade do problema, caçando um dos pintinhos. Mas, o outro se salvou e virou um baita galo, de fortes pulmões, que, às quatro da madrugada, se põe a cantar e a infernizar a vida do prédio inteiro, com aqueles cocoricóóóós intermináveis.
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Gente, o que é que está acontecendo com as mães? Minha sobrinha fez uma festa de aniversário, aqui no sítio, para comemorar os seis anos de idade da filha. Veio uma “van”, de São Paulo, com três monitoras e a criançadinha da escolinha. Foi tudo muito bonito e alegre. As monitoras montaram três barracas bem no meio da sala da casa de minha irmã. Uma barraca para as meninas, outra para os meninos, a terceira para as monitoras. E, assim, as crianças acamparam dentro de casa, longe do perigo de grilos, formigas, pernilongos. Um final de semana inesquecível para muitas das crianças que nunca haviam visto um porquinho, um pônei, coelhos, cabras, vacas. Tudo muito bonito. 

Na saída, cada criança ganhou e levou para casa dois pintinhos. Vocês sabem, não é? Daqueles amarelinhos, bonitinhos, que costumam fazer suas caquinhas em qualquer lugar e, principalmente, com o hábito muito ruim de crescerem e se transformarem em galinhas cacarejantes. Ou em galos cantadores das madrugadas. Minha outra sobrinha, que não viera mas mandara os dois filhos, ligou para a irmã, furiosa:

“Trate de vir pegar esses pintinhos! Como é que eu vou cuidar de quatro pintinhos dentro de um apartamento?”

Gentes, lembro que meus filhos, quando eram pequenos, várias vezes chegavam de festinhas com um peixinho vermelho cada um. Mas, pintinho? Essa não!
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Rosenildo estava meio desconfiado da mulher. A Clotildinha andava um tanto estranha, de uns tempos para cá. “Aí tem coisa e da grossa”, pensava Rosenildo, com seus botões. E foi então que aconteceu.

Rosenildo ouviu um barulho estranho dentro do guarda roupa. Aproximou-se bem devagar, pé ante pé, e abriu a porta de repente. Uma galinha assustada, berrando feito um demônio, saiu esvoaçando de dentro do armário. O coitado tomou o maior susto da vida dele. Fosse um homem e o susto não teria sido tão grande.

“Mulher! Que diabos essa galinha tá fazendo dentro do armário?”

Clotildinha veio lá da cozinha, alarmada.

“Eu sabia que você não iria gostar. De dia ela fica solta pelo apartamento. Mas, à noite, antes de você chegar, eu a tranco aí dentro para você não ver”.

“E que idéia louca é essa de criar galinha dentro do apartamento?”

“Foi a Mariazinha que ganhou de presente em uma festinha de aniversário de amiguinho da escola!”

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Gentes, torço para que nenhum de seus filhos ou netos traga para dentro de suas casas um pintinho. Ou dois! Ou três!

Abração a todos e até à próxima.

JF