quinta-feira, janeiro 22, 2015

VOLTA, MEU AMOR! Ou: MARIDO SOZINHO DURANTE A VIAGEM DA ESPOSA

É difícil! Minha mulher foi a São Paulo visitar os filhos. Foi, não! Eu precisei levar, afinal, quem pode recusar a um pedido assim:
“Você não vai me levar? E se eu precisar parar prá ir ao banheiro?”
É verdade! Uma hora e quinze de viagem é muita coisa. E lá fui eu.
Antes, quando ela viajava, a caseira preparava minhas refeições. Agora, sem a caseira, tudo ficou muito, mas muito mesmo, mais difícil. Só que a Nina é prática. Assim, já deixa todas as minhas refeições prontas, na geladeira, e as instruções de preparo. Quanto às refeições da bicharada, nada demais. Tem ração para todos.
E, assim, iniciei meu período sozinho, ao voltar de São Paulo, na terça à tarde. Ao entrar na cozinha, um lindo abacaxi me olhava, de seu posto na fruteira. Oba! Suco de abacaxi natural! Tão fácil de fazer quanto o suco de abacaxi de caixinha vindo do supermercado.
Peguei o abacaxi e... Como é que se tira a casca desse negócio? É como uma banana? Ou descascando como uma laranja? Uma faquinha deve resolver. Não resolveu nem para tirar a coroa. Resolvi serrar e peguei a faca de pão. Também não deu certo. Uma faca grande acabou dando conta do recado, embora eu esteja desconfiado que ela cortou demais, pois só sobrou menos da metade do abacaxi. Ô fruta complicada! Abacaxi é um abacaxi!

A operação seguinte deverá ser mais fácil, imaginei eu, enquanto pegava o processador. Ajeitei o menos de meio abacaxi dentro dele, praticamente inteiro, da forma como sobrou, coloquei a água, e foi um custo fazê-lo funcionar, já que eu desconhecia o fato de que, sem tampa, ele não liga. Não deu muito certo e resolvei partir para o liquidificador. Só que, desta vez, resolvi que deveria picar o abacaxi que saíra inteirinho do processador, nadando na água. Coloquei o abacaxi picado, coloquei açúcar, enchi o copo com água e liguei. Vocês nem imaginam como ficou a cozinha. Eu esqueci de tampar o copo e voou água para tudo quanto era lado, principalmente para o meu lado. Fiquei todo molhado! Assim já era demais. Abandonei o abacaxi e tomei água pura, mesmo.

Mais tarde, chegou a hora do jantar. Lógico que a primeira coisa foi o jantar do cachorro e dos dois gatos, mas isso é fácil. É só pegar ração e colocar em seus pratos. Felizmente, o Jiló não come nada e, assim, não dá trabalho. Para quem não sabe, Jiló é meu sapo de estimação. É um enorme sapo esculpido em madeira, uns 5 quilos de sapo, sempre em sua posição de segurar a porta do quarto para que o vento não a bata. Dizem que sapo de madeira não come. E é verdade. Só que desconfio que Jiló é, na verdade, um príncipe que foi encantado por uma bruxa e está à espera de que uma princesa venha beijá-lo, para que ele possa retornar ao seu estado inicial de príncipe e possa cavalgar, com sua nova amada, até sua terra. O problema é que, hoje em dia, príncipes cavaleiros não estão com nada. As amadas, agora, só querem saber de jogadores de futebol que rodam por aí não montados em cavalos mas em possantes carros esportivos vermelhos, de preferência Ferrari ou Lamborghini. Mudaram os tempos, mudaram os costumes, e vamos ao que interessa: o meu jantar.
A Nina deixou por escrito: “1-pegue a sopa que está na geladeira; 2-Coloque para esquentar por doze minutos no microondas; 3-Não esqueça de ligar o microondas; 4-Retire do microondas com muito cuidado para não se queimar.” Preparei a mesa direitinho e fui seguir as recomendações dela. Gentes, como é que eu iria ligar o microondas por doze minutos se não encontro os bicos de gás? Eles embutem de tal forma que você não sabe onde estão e como acender. Foi aí que eu, lá, abestalhado, com a caixa de fósforos na mão, resolvi: “vai fria mesmo!” Puurrrrrrr! Sopa gelada é horrível! O jeito foi comer umas esfihas! Lá no Habib’s!
Hoje, pela manhã, fui preparar meu café. Pensei em fazer uma vitamina, mas como é que a gente pode preparar uma vitamina com dois gatos e um cachorro trançando pelo meio das pernas da gente? Ainda bem que o sapo Jiló fica tranqüilo, em seu lugar, junto à porta do quarto, enquanto espera por sua futura amada, o que me faz de ter que “engolir sapos”. Depois de alimentar a bicharada, comi umas fatias de bolo que a Nina já havia até deixado cortadas. Ela pensa em tudo! Mas, a bicharada não se contenta só com ração, Eles também tomam seu leitinho. Esquentar o leite? Aí já é demais! Se eu tive que tentar encarar sopa fria, eles que tomem leite gelado.
E chegou a hora do almoço, com mais instruções escritas deixadas pela Nina... Deixei tudo de lado e, depois de dar ração aos bichos, menos ao Jiló, que ele não come, fiz pipocas. É a única coisa que eu sei fazer, embora não no microondas. Sei lá como é que se liga o gás daquilo! À noite, depois de alimentar a bicharada, menos o Jiló, irei ignorar por completo as instruções da Nina e irei saborear um Big Mac, lá no McDonald’s.
Felizmente, amanhã cedo ela já estará de volta e poderá preparar um almocinho bem maneiro para o seu amorzinho... Se bem que não sei se ela vai gostar de encontrar a pia abarrotada de coisas para lavar, a cozinha toda suja... Estou achando que ela vai me deixar de castigo, sem almoço. Oh, vida!!!
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Feliz 2015, pessoal. Um abração para todos e até à próxima
JF